Tchizé dos Santos diz que voltara a Angola quando João Lourenço deixar de ser presidente
A Assembleia Nacional votou, ontem, favoravelmente pela perda do mandato da deputada do grupo parlamentar do MPLA Welwitchia “Tchizé” dos Santos, devido a ausências prolongadas e reiteradas nas reuniões plenárias. Tchizé diz que foi vítima de um "golpe" e chama "ditador" a João Lourenço e voltara a Angola quando João Lourenço deixar de ser presidente.
Welwitschea dos Santos, filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos justificou que se encontra "involuntariamente" ausente do país, devido à doença da filha, mas há vários meses que está a ser "intimidada" por dirigentes do seu partido, razão pela qual se recusa a regressar a Angola por alegada falta de garantias de segurança.
Tchizé dos Santos reagiu a esta expulsão através da sua conta de Instagram e chama "ditador" ao presidente da República, João Lourenço.
"Estou aliviada com o golpe que me deu o meu carrasco político, ditador João lourenço, e os seus bajuladores, ao revogar o meu mandato de deputada", escreve a filha do ex-líder do país, José Eduardo dos Santos, nesta rede social.
Tchizé dos Santos diz ainda que foi João Lourenço e seus pares que provocaram a sua "ausência prolongada do país com muita intimidação e ameaças à minha integridade, numa clara violação dos direitos humanos e da Constituição de Angola"
Num áudio que gravou para a Voz da América, a política e empresária diz não ter a certeza absoluta do que aconteceu, se lhe foi revogado o mandato ou se foi suspenso, reiterando que não está fora de Angola voluntariamente: "Eu tive que fugir, porque fui ameaçada de morte pelo camarada presidente do grupo parlamentar do MPLA".
Tchizé dos Santos diz também que gravar áudios é a forma que encontrou para comunicar com o povo: "Estou completamente censurada da imprensa pública e até da maior parte dos meios privados, que são controlados por pessoas ligadas ao regime".
"Sempre disse que alguns de nós seríamos sacrificados por esta causa, tal como já foram, no passado, outros sacrificados por outras causas (...) e foi mais forte do que eu continuar a lutar".
Tchizé diz que se lhe tivesse sido comunicado "como manda a lei" ela teria apresentado uma explicação por escrito e "haveria de acusar o Presidente da República de instrumentalização das instituções, de golpe de Estado".
No mesmo áudio, a filha do antigo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, diz que "está instituída a perseguição a qualquer pessoa que elogie sequer José Eduardo dos Santos e a mim no caso foi por ser filha de José Eduardo dos Santos e irmã de Isabel dos Santos, contra quem claramente o Presidente da República nutre ódio e tem diferendos pessoais e quiçá financeiros."
Welwitschia "Tchizé" dos Santos agradece ainda no áudio ao Presidente João Lourenço "por ser o único membro do comité central do MPLA, depois do Nito Alves, a passar pelo que eu passei no MPLA".
Tchizé dos Santos lembra ainda que o seu passaporte diplomático "como filha de antigo Presidente da República é para toda a vida, bem como o direito à segurança e proteção especial do Estado". "Eu só volto para Angola quando João Lourenço deixar de ser presidente", conclui a agora a ex-deputada.
Em declarações à imprensa, o líder do grupo parlamentar da CASA-CE, Alexandre Sebastião André, disse que o voto pela abstenção do projeto de Resolução que determina perda de mandato da deputada do MPLA deveu-se à falta de acesso à tramitação processual entre a Assembleia Nacional e a deputada Tchizé dos Santos.
"Não sabemos quais foram as justificações apresentadas pela deputada em função das suas ausências e faltas permanentes", referiu o deputado.
Por seu turno, o deputado do PRS, Daniel Benedito, considerou que se trata de um processo interno do parlamento, pelo que, perante a ausência prolongada da deputada, as leis e regulamentos devem ser aplicados.
Em setembro, a Comissão de Mandatos, Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia Nacional instaurou um processo disciplinar interno a Tchizé dos Santos devido à sua ausência prolongada. SABADO/VOA
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