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Seca no Cunene mata mais de 15 mil galinhas


O empreendimento resulta de um investimento de cerca de 1 milhão e 800 mil dólares, do qual, 1 milhão e 500 mil dólares provenientes de um financiamento obtido por via do Programa Angola Investe, que já começou a ser reembolsado

A estiagem que assola o Sul do país provocou a morte de mais de 15 mil galinhas poedeiras, em apenas três horas de Sábado, e outras cerca de seis mil poderão ter o mesmo destino a qualquer momento, de acordo com o empresário Gildo Leite, proprietário do aviário Ovo Lélé, localizado em Oypembe, a seis quilómetros de Ondjiva, capital da província do Cunene.

Até ao final da tarde de ontem,instante em que Gildo Leite falou com OPAÍS, a cifra de aves mortas já ultrapassava as 16 mil, porém, não haviam conseguido contabilizar a quantidade que sobrou pelo facto de as sobreviventes entrarem em stress. Tanto o empresário como os seus funcionários vivem momentos de angústia por se verem impossibilitados de evitar a morte dos animais, pois não têm como obter água, em consequência da crise no fornecimento desse bem que a província vive há mais de 20 dias. A única coisa que estão a fazer é retirar as galinhas mortas e pô-las num local apropriado. “Não conseguimos contar as vivas, mas acreditamos que devemos ter ficado apenas com cinco ou seis mil galinhas. Não quer dizer que não poderão morrer também”, detalhou.

Inicialmente, o fornecimento deste líquido precioso ao aviário era assegurado por dois furos existentes na propriedade, porém, secaram em Fevereiro, dois meses depois de as primeiras aves chegarem ao aviário. Face a essa situação, a Gildo Leite recorreu a empresas de camiões cisterna para assegurar o normal funcionamento do empreendimento, o que até então estava a surtir o efeito esperado. Com muito esforço, no dia 4 do mesmo mês, atingiram a produção do primeiro milhão de ovos. O negócio prosperava e previa- se um futuro airoso. Até que à noite de Sábado último. Horas antes do incidente, o aviário Ovo Lélé produzia cerca de 23 mil ovos por dia. Além de abastecerem em toda a extensão da província do Cunene, forneciam também a alguns comerciantes da vizinha Namíbia, e de outras províncias como o Cuando Cubango e Huíla. “Já estava a reembolsar o crédito que me foi cedido pelo programa Angola Investe, todavia, não vou ter condições de continuar a fazê-lo se não tivermos outra estratégia de retomar ou réarrancar o projecto.

O mesmo foi feito apenas para a produção de ovos. Não dá para ser adaptado para outras actividades”, declarou Gildo Leite, em declarações ao jornal OPAÍS.

Há 15 dias que esse cenário mudou completamente. Passaram a enfrentar enormes dificuldades no fornecimento de água pelo facto de ter ocorrido uma avaria na Central da Captação de Água de Xangongo e de a tubagem que a transporta para Ondjiva ter sido vandalizada pela população, em consequência da escassez. De acordo com o nosso interlocutor, esse comportamento da população terá sido motivado pela falta de água para satisfazer as suas necessidades pessoais e para dar de beber ao gado. “Todos os dias as dificuldades para obtermos água se tornaram maiores. Até que na Sexta- feira não conseguimos obter a quantidade suficiente para o sistema de arrefecimento da nave e às 20horas começaram a morrer galinhas. Em cerca de 3horas morreram 15 mil galinhas”, frisou. Acrescentou de seguida que “a situação do fornecimento de água não normalizou e não há previsões de se normalizar tão cedo e tende para pior”.

Essa sua convicção deve-se a informações que diz ter recebido da Direcção de Águas do Cunene.

Atraído pelo Executivo

Abatido com a situação, Gildo Leite contou que a iniciativa de desenvolver este projecto surgiu em função do apelo do Executivo no sentido de se apostar na diversificação da economia e que estava disponível a apoiar empreendedores através do aludido programa. Deste modo, este benguelense que reside no Cunene há mais de 10 anos, conhecendo a realidade local, elaborou o projecto do aviário Ovo Lélé e o competente estudo de viabilidade e o submeteu à aprovação de um dos bancos comerciais que tinham a missão de financiar o respectivo programa. “Como os ovos no Cunene eram importados, surgiu-nos a ideia de erguer este aviário que actualmente emprega perto de 25 trabalhadores”.

O projecto foi aprovado e, com isso, obteve um financiamento de 1 milhão e 500 mil dólares para a sua concretização, uma vez que beneficiaria os habitantes da província do Cunene, onde está instalada, da Huíla e Benguela, sua terra natal. No entanto, para a sua concretização aplicou também mais de 300 mil dólares de que dispunha, o que elevou o investimento para cerca de 1 milhão e 800 mil dólares, no total. “O projecto iniciou há quatro anos. Foi construído de raiz, no entanto, só em Dezembro último chegaram as primeiras galinhas, período em que começamos a produzir ovos”, frisou.

Recordou que no princípio, tinham dificuldades de importar ração, por se encontrarem distantes do centro do país. Situação que foi ultrapassada com sucesso. O êxito de Gildo Leite “não se prevê neste momento”, em função da crise no fornecimento de água que essa província, com mais de 500 mil habitantes, enfrenta. As pessoas que comercializavam esse precioso liquido também não têm onde recorrer para o obterem. Solicitado a esclarecer os prejuízos causados até ao momento, o empresário disse que até as aves chegarem ao aviário Ovo Lélé, provenientes do exterior do país, ficam orçadas em 1.800 kwanzas cada. Neste valor já se inclui o pagamento das taxas alfandegárias.

População furta galinhas mortas para o consumo

Gildo Leite disse que as aves mortas não podem ser aproveitadas, transformando-as em frango. No entanto, as galinhas que foram postas durante a noite num local para serem incineradas ou enterradas a posteriori, foram retiradas pelos populares da zona no mesmo período. Ele acredita que o consumo de tais galinhas não poderá provocar doença às pessoas pelo simples facto de não terem sucumbido por doença, mas por excesso de calor no interior da nave. Desabafou que correm o risco de encerrar o aviário por falta de água.

A possibilidade de conseguir fazer novos furos de forma está descartada por inexistência de meios materiais e humanos para o efeito. Detalhou que esse processo é antecedido de outras etapas. “Não é só fazer o furo, há também os esquipamentos para o mesmo. Ultimamente, devido à crise que o país está a enfrentar, as empresas que forneciam esse equipamento também não os têm para entrega imediata”, disse. Desabafou que se sente revoltado por sentir que foi induzido em erro, através da afamada política de diversificação da economia. “Diziase que o país pretendia diversificar a economia e eu, como angolano, senti-me no dever de ajudar e acabei sendo abandonado”.

Embora reconheça que a estiagem não foi criada pelos angolanos, por se tratar de um fenómeno natural, acredita que poderia ter sido feito mais para se evitar situações do género. “Aliás, o problema da seca no Cunene não é novo. É algo que já leva muitos anos. Portanto, acredito que se houvesse um pouco mais de boa vontade não estaríamos nesta situação”, friso  OPAIS

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