Manuel Paulo da Cunha falava na qualidade de testemunha no julgamento em que o ex-chefe do Serviço de Informação e Segurança Militar (SISM), general António José Maria "Zé Maria" é julgado pela suposta prática de crimes de extravio de documentos, aparelhos ou objectos que contêm informações de carácter militar, bem como de insubordinação. A testemunha disse que José Eduardo dos Santos tomou conhecimento da existência daquela documentação quando foi convidado a visitar uma exposição na FESA.
“O general José Maria convidou o ex-presidente da República a visitar a cave da FESA, onde se encontravam expostos o material relativo à Batalha do Cuito Cuanavale e outros materiais como livros, mapas e revistas”, contou Manuel Paulo da Cunha, arrolado pela defesa como testemunha do general José Maria.
O ex-director do gabinete do presidente da FESA adiantou que, quando José Eduardo dos Santos apercebeu-se da documentação, mostrou-se satisfeito, uma vez que, na sua óptica, tais documentos iriam permitir a escrita da História, não só da Batalha do Cuito Cuanavale, mas também de outras. Manuel Paulo da Cunha disse que José Eduardo dos Santos aproveitou a oportunidade para entregar ao general José Maria alguns documentos que tinha em casa referentes à Batalha do Cuito Canavale e sobre a sua governação, para consulta.
A testemunha afirmou que o ex-Presidente da República, quando soube da diligência que havia de ser feita pela Procuradoria Militar, tentou contactar, por telefone, o actual Chefe de Estado, mas não conseguiu porque recebeu a informação de que João Lourenço se encontrava reunido. Dado o insucesso na tentativa de comunicação com o Presidente João Lourenço, disse, de maneira a não prejudicar a realização da diligência pretendida, José Eduardo dos Santos alterou a sua agenda e orientou ao general José Maria para que facilitasse a realização da acção da Procuradoria Militar, entregando a documentação que, eventualmente, tivesse em sua posse e se encontravam na FESA.
“Em nenhum momento José Eduardo dos Santos manifestou algum tipo de resistência ou oposição a que a documentação fosse entregue”, garantiu Manuel Paulo da Cunha, acrescentando que, pelo contrário, mostrou a intenção de facilitar a entrega dos documentos. O ex-director do gabinete do presidente da FESA explicou que o objectivo do telefonema era no sentido de manifestar ao Presidente da República que não havia necessidade da realização da diligência porque ele José Eduardo dos Santos assumia a responsabilidade de orientar o general José Maria para que, no dia seguinte, fizesse a entrega da documentação.
Manuel Paulo da Cunha confirmou que o ex-Presidente da República teve conhecimento da diligência que seria feita pela Procuradoria Militar nas instalações da FESA. Entretanto, sublinhou que, no dia da diligência, José Eduardo dos Santos tinha compromissos, nomeadamente audiências, na sua fundação. A testemunha explicou ainda que teve conhecimento, em 2010, da criação, pelo ex-Presidente da República, de uma comissão que tinha como missão a criação de condições para compilar a história da Batalha do Cuito Cuanavale. A referida comissão, disse, era integrada pelo então chefe da Casa de Segurança do Presidente, general Hélder Vieira Dias "Kopelipa", o ex-chefe do SISM, general José Maria, bem como Frederico Cardoso, Aldemiro Vaz da Conceição e José Mena Abrantes, na altura altos funcionários da Presidência da República.
A comissão, contou ainda Manuel Paulo da Cunha, foi criada por altura da realização de uma cerimónia de outorga de medalhas aos combatentes da célebre Batalha do Cuito Cuanavale. Manuel Paulo disse que, em seu entender, os documentos sobre a batalha do Cuito Cuanavale pertencem ao Estado.
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