INTRODUÇÃO
Numa pequena pesquisa, recebemos as seguintes
informações que o kikongo é uma língua africana falada pelo povo bacongo, nas províncias de Cabinda, do Uíge e
do Zaire, no norte de Angola; e na região do baixo Congo, na República Democrática do Congo e nas regiões limítrofes da República do Congo. A língua quicongo
tem o estatuto de língua nacional em Angola.
Conta com diversos dialetos. Era
a língua falada no antigo Reino
do Congo.
É uma língua
tonal. Era falada por muitos dos que foram levados
como escravos para as Américas.
Por essa razão, formas crioulas suas são adotadas na linguagem ritual de religiões
afro-americanas. Também influenciou na formação da língua gullah nos Estados
Unidos e do palanqueiro na Colômbia.
Existem atualmente aproximadamente 7 000 000 de falantes nativos e 2 000 000 de
pessoas que a usam como segunda
língua. Serviu de base para a formação do kituba.
O CONTACTO ENTRE
LINGUAS
Através
dos antropónimos, segundo Carreira e Quintino, (1969: 28), é possível tomar
conhecimento de muitos aspectos interessantes da sua vida de um povo:
tendências, vícios, defeitos, credos, superstições, um mundo de problemas
ligados à maneira de ser e de viver desse mesmo povo, numa visão sociocultural.
O
contacto entre as línguas nacionais e a Língua Portuguesa criou nos povos de
Angola um conjunto de novos procedimentos, que fizeram com que, hoje, não se
perceba a origem de alguns antropónimos, isto é, se são de origem de uma língua
nacional ou se provêm da Língua Portuguesa; se um determinado significado tem
origem nesta ou naquela língua; se determinada grafia pertence à língua
nacional ou ao português; se uma dada pronúncia é ou não correcta; se é ou não
uma pronúncia de outra língua.
Estes
problemas não só prejudicam as línguas nacionais, mas também dificultam o
processo de organização do Acordo ortográfico da Língua Portuguesa, que
o país pretende implementar, contribuindo também para a identidade cultural de
um povo. Em virtude do carácter social e da necessidade de valorização do
património cultural, urge a necessidade de efectuar uma análise e recolha
indispensável de dados relacionados com a antroponímia nacional, dados que se
referem ao passado histórico e cultural do homem angolano.
A
reconstrução de uma sociedade passa por vários aspectos e modelos sólidos para
a sua identidade nacional e internacional.
A escolha do tema visa a análise dos
antropónimos, unidades lexicais, que constituem um acervo de unidades lexicais
da língua, partilhado pela comunidade de locutores.
Com
este estudo pretendemos estabelecer uma ortografia harmoniosa dos antropónimos
de acordo com a Língua de origem e a realidade contextual em que são
utilizados; identificaram-se métodos que ajudam a elaboração de programas para
o estudo da Antroponímia; propuseram-se algumas estratégias que podem ajudar os
pais e os Serviços dos Registos a atribuírem nomes, obedecendo a uma ortografia
harmoniosa.
E,
finalmente, demonstrou-se a importância do investimento harmonioso da escrita
dos antropónimos e os riscos que a não harmonização pode causar.
Lembramos
que a complexidade, a extensão do assunto escolhido e a dimensão geográfica da
região Kongo, que se estende pelo Norte de Angola e pelos dois Congos
(Democrático e Brazzaville), não nos permitiu desenvolver um trabalho mais
completo sobre o tema, tendo em conta a dimensão do referido território.
Neste sentido, acabamos por apresentar apenas
um subsídio para o estudo dos antropónimos da língua Kikongo, na Província do
Uíge. Esta investigação é um estudo descritivo. Os dados foram recolhidos em
diferentes áreas da Província, nomeadamente na Conservatória dos Registos do
Uíge, nas Direcções Provinciais, Administrações, Cartórios religiosos,
entidades tradicionais, pessoas singulares, etc.
GEOLINGUÍSTICA DA
PROVÍNCIA DO UÍGE
Antes da chegada dos portugueses à foz do rio
Zaire em 1482, o Reino Kongo encontrava-se organizado administrativamente, com
uma entidade cívico-cultural africana. Administrativamente, o Reino do Kongo
estava dividido em seis províncias: Mpemba, Soyo: Mbamba, Mbata, Nsundi,
Mpanzu.
A actual Província do Uíge fazia parte da
organização administrativa do Nsundi (cf. Kanda, 2005). Angola é um mosaico de
vários reinos, mas o único a que a História Universal faz referência é o Reino
do Kongo.
Zau
(2009) refere-se aos Bakongo como um povo que tem tido uma preocupação no
cumprimento da sua cultura ancestral, o que o identifica como um povo
genuinamente bantu. Tudo isto deveu-se ao espírito de organização
administrativa que os nossos antepassados possuíam.
Não
se sabe a data exacta da fundação da cidade do Uíge. Sabe-se, porém, que foi
enviado o alferes Tomás do Bembe ao Candombe Velho, ao local onde se encontrava
o Soba Bunzu, a quem entregou a mensagem enviada pelo Comandante, cujo teor
referia a autonomia da cidade de Carmona, actual cidade do Uíge.
A
Província do Uíge é uma das dezoito Províncias de Angola, parcela do território
que fazia parte do Reino do Congo.
O
primeiro contacto do povo do Congo com os europeus (portugueses) aconteceu a 23
de Abril de 1482 quando Diogo Cão chegou à foz do rio Nzadi (Zaire) que
baptizou com o nome de “rio de S. Jorge.
Os habitantes deste reino chamavam-se Bakongo,
nome que prevalece até à data actual os Bakongo pertencem à grande família
bantu que habita a cintura da Savana do Sub-Sahara; hoje, encontram-se
espalhados em vários pontos de África.
Diogo
Cão estabeleceu contactos com o governador da província de Soyo (Mani Soyo) e
soube da existência do rei Nzinga-a-Nkuvu que morava em Mbanza Kongo, mandou
emissários ao rei e regressou a Portugal, levando consigo 4 indígenas do Congo
entre eles o Kasuta (baptizado em 1483 com o nome de D. João de Sousa) (cf.
Bauer, 1994:51).
Mais
tarde, grandes migrações vieram instalar-se na bacia hidrográfica do Rio Zaire
e dos seus afluentes. Por terem encontrado boas condições de vida, esta
corrente migratória instalou-se nesta zona: é o chamado grande grupo ou família
dos Bakongo (cf. Mudiambo, 2014:50).
Os
Bakongo de Angola identificam-se pelas suas características culturais típicas,
a sua facilidade de adaptação, as suas experiências de arte e de técnica, a agricultura
e o comércio; por isso, o Mukongo (singular de Bakongo) é reconhecido em
qualquer parte do país. Mudiambo (2014:50) afirma que «Numa viagem por todo o
país, encontramos representantes deste povo, os Bakongo, em todas as províncias
do país.
Cada grupo etnolinguístico confina-se,
geralmente, de acordo com a sua origem, a uma determinada “região geográfica”
que J. Quipungo (1987:53) define como uma parcela de terra circunscrita pelas
pessoas que nela habitam e se autorrealizam. Sua repercussão dentro do país
deve-se, especialmente, à personalidade deste povo que dá a conhecer o que a
região possui em termos de qualidade de terreno, a riqueza da sua fauna e
flora, riquezas minerais e todas as suas características climáticas e pluviais.
Os
estudos de vários sociolinguistas, historiadores, antropólogos e outros
interessados na matéria atribuem várias classificações sobre a localização dos
Bakongo.
Segundo
autores como Fernandes (2002) e Zau (2009), entre outros, podemos encontrar
esse grupo em Cabinda até à margem esquerda do rio Kongo, numa região entre o
mar e o rio Cuanza. Os Bakongo contam hoje com um grupo com cerca de 480.000
habitantes, ocupando a terceira posição entre os maiores grupos
etnolinguísticos do país. Este grupo subdivide-se em Basikongo, Bandongo,
Pombo, Nsoso, Suku, Yaka, Zombo, Hungu, Bayombe e Woyo.
A
sua actividade principal é a agricultura com uma tendência actual para a
mecanização.
O Uíge é uma das dezoito (18) Províncias da
República de Angola, situada a Norte do país. A referida Província faz parte
das maiores Províncias de Angola com superfície territorial de 64.022 km2,
estendendo-se entre os 550 e 820 de latitude sul e os meridianos 1450 e 1710 de
longitude Este de Greenwich.
A Província é limitada ao norte e Nordeste pela
República Democrática do Congo, a Oeste com a província do Zaire, a sudoeste
com o Bengo, a Sul com o Cuanza Norte; a Sudeste com Malange que, segundo os
resultados preliminares do Censo 2014, indicam que a 16 de Maio de 2014
residiam, na Província do Uíge, 1.426.354 pessoas, sendo 698.958 do sexo
masculino e 727.398 do sexo feminino (cf. INE. 2016).
ORIGEM E VARIAÇÃO
GRÁFICA DO TOPÓNIMO UÍGE
O
topónimo “Carmona” designou a actual Província do Uíge e a sua capital que tem,
hoje, o nome de Uíge. Ao longo do tempo, a sua grafia tem suscitado motivos de
investigação. Os católicos escrevem com J “Uíje” (cf. Kanda, 2005, Mudiambo,
2014 e Mourisca, 2002).
Administrativamente,
o topónimo é escrito com G “Uíge”. Manuel Quivuna, investigador em Sociolinguística
e Lexicologia sugere uma outra forma ortográfica para escrever o topónimo Uíge.
Segundo o autor, a grafia correcta do topónimo “Uíge” deveria ser com W e Z
“Wizi” segundo a língua 7 “Kikongo”.
O autor justifica que o grafema /g/ não fazem
parte do sistema grafemático do Kikongo, pois o alfabeto desta língua não tem
/g/. O PDPU1 de 2013 a 2014, traçado pelo governo Provincial do Uíge, esclarece
que o nome da Província deriva da localidade do Uíge, onde foi fundado um posto
militar pelos portugueses, em 1917, que viria a ser a sede da circunscrição de
Bembe a partir de 1923 e posteriormente sede do concelho do mesmo nome. Há
ainda explicações para o nome: “wizidi” que, na língua Kikongo, significa
“chegada”, em alusão aos primeiros portugueses que se fixaram na região, até ao
rio Uíge.
O PDPU (2012:6) afirma que «A grafia de Uíge
aparece frequentemente como Uíje. Torna-se necessário tomar uma decisão oficial
como aconteceu em Malange, onde, por orientação do Governo da Província se
aboliu oficialmente a grafia com um /j/.
O mesmo deve ser feito para Negage (Negaje),
Dange (Danje) e outros casos». Uma importante data de referência na Província
do Uíge foi 1934. Nesta data, foi criada a vila que mais tarde recebe a
designação do nome do português Marechal Carmona.
Assim, o actual Uíge ficou conhecido como Vila
do Marechal Carmona. Ao longo deste período, a vila foi considerada a capital
da província do Congo, criada em 4 de 07 de 1946. Anos depois, em 1956, é
elevada à categoria de cidade.
Depois dos acontecimentos de 1961, o distrito
do Congo foi dividido em dois: Zaire e Uíge, tornando-se a cidade do Uíge a
capital da mesma Província. A independência fez com que o distrito passasse a
designar-se Província, mantendo os mesmos limites. (cf. PDPU: 2012).
A
data histórica indica, por um lado, a centralização do poder do regime colonial
português, carregado de todo o tipo de vicissitudes e por outro lado, tem sido
festejada, porque marca algo histórico na vida desta parcela do território
nacional.
O povo da cidade do Uíge começou a realizar as
festividades desta cidade no tempo do Governador ou Comissário Senhor António
José Aníbal Rocha, em 1987 (cf. Mudiambo: 2014). Neste trabalho, usaremos a
grafia oficial, isto é UÍGE. Esperamos que o projecto sobre o acordo
ortográfico harmonize também este topónimo
A LÍNGUA COMO VEÍCULO
DA CULTURA DE UM POVO
A língua é o suporte de valores que lhe são
intrínsecos e condiciona o modo de pensar de quem a fala. Saussure (cf. 1978)
reconheceu que «nenhuma sociedade conhece nem conheceu jamais a língua de outro
modo que não fosse como um produto herdado de gerações anteriores e que cumpre
receber como tal».
O autor lembra-nos ainda que «os factos
linguísticos não provocam a crítica, no sentido de que cada povo geralmente
está satisfeito com a língua que recebeu.
A história revela que em Angola, país
multilingue, o governo garante e sempre garantiu a unidade nacional, na escolha
do português como Língua da comunicação de Cabinda ao Cunene e do Mar ao Leste.
O governo angolano considera que a unidade nacional se estende de Norte a Sul e
do Mar a Este.
A
escolha de uma língua local, entre as várias existentes, poderia contribuir
para uma outra guerra num país que se encontrava numa imergência de uma
identidade nacional,o português, sendo a língua de escolaridade, tornou-se
língua oficial, com o intuito de garantir a comunicação não só nacional, mas
também para facilitar a comunicação internacional. Para os Bakongo, a
identidade cultural é o resultado de vários factores tais como: históricos,
sociais, culturais, linguísticos e geográficos.
No
caso da cultura, segundo Paul (cf. 1966), apud Mudiambo (2014), o
reconhecimento da cultura passa pelas condições da evolução e reconhecimento da
língua. O autor reconhece ainda que a língua representa o resultado da cultura
humana na qual se desenvolvem todos os produtos da cultura e, portanto,
constitui um objecto da observação histórica. As línguas têm uma natureza
social. São sistemas complexos de signos partilhados por um conjunto de
locutores com pequenas variantes, poderá, no entanto, existir uma variante
dominante (cf. Gomes, 2006).
Segundo
Castro (cf. 2011:7), “uma língua não é um objecto estático e fechado, como as
descrições linguísticas sincrónicas, por convivência prática, muitas vezes
deixam supor; antes parece um corpo vivo que se acha em mutação constante, nem
sempre avançando de forma linear para um objectivo determinado: também pode
reverter sobre os seus passos ou pode oscilar entre avanços em várias
direcções, naquilo a que se chamaria variação”.
Assim,
a língua como todos os outros elementos que alicerçam a cultura, não é uma
invenção ou criação de um indivíduo isoladamente: ela é obra de todo um grupo
social. Na mesma linha, Mondin, apud Imbamba (2010:43),
A
língua, não é só um instrumento de unificação, caracterização e distinção dum
grupo social, mas é, também, a mola que faz impulsionar o seu desenvolvimento
cultural. Um dos espelhos a partir dos quais o mundo externo pode ver e avaliar
a grandeza, a riqueza ou a pobreza da cultura dum povo, pois a língua é o
símbolo principal e fundamental de qualquer comunidade humana portanto, a
língua desempenha um papel social e, concomitantemente, é o elemento veiculador
da cultura de um povo. Assim, a conservação e valorização da cultura
linguística Bakongo, através do uso da Língua Kikongo é um dos aspectos que tem
despertado um grande interesse pelos investigadores na referida região.
ETNOLIGUÍSTICA DE ANGOLA
Angola
é um país multilingue e com uma grande diversidade étnica. No entanto, o
contacto duradouro com o colonizador português não levou ao esquecimento das
línguas de Angola, apesar do superstrato registado em certos casos (cf. Sousa,
F. (2012). O termo etnolinguístico apresenta duas noções: etnia e língua. A etnia,
do grego ethnos: povo, nação, é um grupo de indivíduos que pertencem à mesma
cultura (mesma língua, mesmos costumes) e que se reconhecem como tal.
A língua como “sistema de signos”, segundo
Saussure (cf.1978), é de natureza social e partilhada por uma comunidade que
admite as suas convenções e as suas modificações que permitem a sua evolução ao
longo do tempo.
Benveniste (2005) sublinha que a língua é um
espelho da sociedade que reflecte a estrutura social nas suas particularidades
e variações. Para Hegel, apud Chicuna, 11 (2014:32) «a língua é uma mediação e
não só entre o homem e os outros homens, mas ainda entre o homem e o mundo».
A língua Kikongo é uma das línguas bantu mais
falada pelos habitantes da província do Uíge, fazendo parte da identidade
nacional; o Ministério da Cultura chama esta região de “área sociocultural
Kongo”.
A Lei sobre o Estatuto das Línguas Nacionais
(2004: 6-8) estabelece “as línguas usadas histórica e secularmente pelos povos
que habitam o território nacional, independentemente do número de falantes
enquanto veículo de transmissão das comunidades linguísticas angolanas, cabendo
ao estado promover o seu desenvolvimento e difusão”.
Para Macêdo et al (2005) os povos de origem
Bantu constituem a esmagadora maioria da população angolana. Sabe-se também,
que a população autóctone, segundo a classificação de Redinha (1962:11-20),
subdivide-se nos seguintes grupos etnolinguísticos: 1) povos bantu: Kikongo,
Kimbundu, Lunda-Kioko, Umbundo, Ganguela, Nhaneka-Humbe, Ambó, Herero e Xindonga;
b) povos não-Bantu: Koisan ou Hontetote-Bochimane e Vátua. Nesta distribuição,
as regiões sedentárias das etnias continuam imutáveis e apresentam
características próprias. Cada grupo étnico possui uma identidade cultural
distinta, idioma próprio e as respectivas variações linguísticas que permitem
estabelecer relações de pertença entre si e expressar laços de fraternidade,
culturais, comerciais e outros, nutrindo o respeito mútuo e o princípio de
integridade territorial.
LÍNGUAS NACIONAIS EM
CONTACTO COM O PORTUGUÊS
A
lei do uso da Língua Portuguesa em todos os sectores e actividades laborais, a
força de conservação e a maioria absoluta da população não alfabetizada e
residente no interior, na qual o colonizador tinha pouco contacto, fez com que
a população comunicasse nas suas línguas maternas.
É
de reconhecer que os grupos étnicos continuam a preservar as principais 12
particularidades etnolinguísticas das suas respectivas comunidades que revelam
uma força de conservação e de manutenção. Há autores que afirmam que a
desvalorização das Línguas Nacionais, durante o período colonial, manifestou-se
de várias formas: proibições do seu uso nos locais comerciais, serviços
públicos; não podiam ser faladas, mas, mesmo assim não foram esquecidas.
Segundo
Quivuna (2014), a incapacidade que o colonizador teve em expandir o português
em todo o território nacional, antes da independência, fez com que o português
não se enraizasse na sua totalidade em todas as parcelas do território.
A
história revela que as línguas de Angola, conhecidas como Línguas Nacionais,
durante o período colonial estavam confinadas ao seu âmbito regional, o que
contribuiu para a sua conservação. Assim, segundo Chicuna (2014: 40-42), a
tendência da administração colonial em propor o protótipo da cultura europeia
aos africanos, levou a que fossem ignoradas as línguas nacionais, começando
pela sua exclusão do sistema de ensino e dos meios de comunicação oficiais do
país, relegando esse papel exclusivamente à missão cristianizadora. Portanto, o
facto das línguas de Angola não serem implementadas no sistema do ensino e
aprendizagem não implicaria necessariamente a sua desvalorização.
A
implementação recente pelo Governo de Angola da Lei de Bases do Sistema de
Educação (LBSE) - Lei nº 13/01 de 31 de dezembro de 2001 afirma que a falta de
implementação da Língua Portuguesa em todo o território nacional angolano pelos
portugueses não se deve à falta da vontade dos colonizadores em expandir a sua
cultura linguística.
No processo de Reforma Educativa de 2001
recomendava-se uma investigação que viabilizasse a implementação das línguas
nacionais no sistema educativo, como forma de neutralizar o funcionamento
glotofágico da Língua Portuguesa e, desta forma, reclamar um papel mais
preponderante das línguas nacionais, no contexto sociopolítico e económico do
país.
LÍNGUA KIKONGO
Em
meadas do século XIII, os Bakongo ocupavam o vale do rio e formaram o reino do
Kongo. A parcela territorial do Uíge pertencia a esta etnia Kongo. De uma forma
geral, entendemos como línguas naturais as línguas ou sistemas de signos, cujo
surgimento não depende de um determinado indivíduo, mas servem de meio natural
de comunicação linguística numa sociedade.
Segundo
Reis (2006: 42), «as línguas naturais têm maioritariamente uma base genealógica
de existência, ou seja, parte de famílias de línguas concretas. Essa
particularidade, a de serem naturais, permite que o signo linguístico seja
arbitrário e a língua – um sistema aberto».
Os Bakongo, cuja língua é o Kikongo, viveram
principalmente no Nordeste de Angola. Hoje, encontram-se nas províncias de
Cabinda, Uíge, Zaire e algumas parcelas de Cuanza Norte e Bengo.
Este conjunto de indivíduos que viveram e
continuam a viver em comunidade, não teriam o carácter de comunidade sem que
existisse a língua Kikongo. O Kikongo é a língua da província do Uíge, desde tempos
remotos, a língua falada pelos habitantes do reino do Kongo. E os habitantes
desta etnia bantu são designados Bakongo ou Esikongo. A Província do Uíge faz
parte deste território.
Assim,
o Kikongo é a língua da Província do Uíge, constituindo um património cultural
muito importante. Quivuna (2014:29) afirma que “o primeiro património cultural
que uma sociedade deve exibir, é sem dúvida, a sua língua; pois, ela veicula a
cultura de um país ou de uma comunidade; é através da língua que as
experiências de vida das comunidades vão sendo transmitidas de geração em
geração, ao mesmo tempo que esta mesma língua vai servindo de suporte de
comunicação entre os membros das mesmas comunidades.
Cada sociedade, por mais subdesenvolvida que
seja, é detentora de uma língua, mesmo que não transcenda fronteiras”. 15 Na
mesma perspectiva, Imbamba (2010: 43) sublinha que a língua “é o primeiro
elemento que faz sair o indivíduo singular de si mesmo e põe-o em comunicação
com os outros. O agrupamento social nasce, antes de mais e sobretudo, com base
numa língua, pois falar é “falar a”, é “falar com”, assim, a língua é a
condição sine qua non para a constituição de qualquer grupo social, o qual é
sempre portador duma determinada cultura”.
A
língua Kikongo, desde as épocas dos reinos até hoje, continua a ser, “um
sistema”(conceito Saussure) e deve ser estudada como tal. Rocher (1989:162)
afirma que «língua é um sistema que só conhece a sua ordem própria e que as
suas partes podem e devem ser consideradas na sua solidariedade sincrónica».
Na época da chegada dos portugueses, no fim do
século XV, o reino do Kongo era um reino forte e unificado, com a capital
Mbanza Kongo. O reino ficou bastante enfraquecido pelos ataques portugueses no
século XVII, acabando por desaparecer na totalidade.
No
entanto, a sua língua manteve-se, apesar da destruição dos reis e dos reinos e
das várias emigrações a que estes habitantes foram sujeitos. Esta língua
continua viva, até hoje, na Província do Uíge. A língua como diz Imbamba,
(2010: 43) «permanece sempre a primeira chave de leitura e a revelação por
excelência de qualquer cultura, por isso, enquanto alicerce e veiculadora de
uma determinada cultura é sempre a história e a hereditariedade de um povo».
Graças ao esforço dos próprios habitantes desta região, sem esquecer os outros
valores, que o próprio Mukongo2 lhe imprime, a língua Kikongo é uma das
identidades insubstituíveis nesta etnia Kong
O KIKONGO EM CONTACTO
COM OUTRAS LÍNGUAS NACIONAIS
A
ONU (1996) afirma que a comunidade linguística identifica-se como povo e
desenvolve uma língua comum, como meio de comunicação natural e de coesão
cultural entre os seus membros.
Numa situação de diglossia, a língua de
prestígio é sempre a mais prestigiada na consciência linguística da sociedade,
do ponto de vista étnico, o Kikongo é a língua bantu dos Bakongo na Província
do Uíge que, por vários motivos, tiveram que abandonar umas zonas para se
fixarem noutras.
Wheeler e Pélissier, apud Mingas (2000),
afiram que apesar da diversidade étnica e da variação de tipos físicos
presentes nos grupos angolanos, estes encontram-se essencialmente interligados
quer em termos culturais, quer raciais, através das línguas geneticamente
aparentadas.
A
maior interacção da Língua Kikongo com outros grupos etnolinguísticos angolanos
ocorreu durante a era colonial em que muita gente do centro e do sul de Angola
foi transportada (compulsivamente) para esta província e durante a guerra que
assolou o país. É neste período que se dá a grande mistura de toda a população
angolana que se dirigia para outras zonas, dando lugar às interferências das
várias línguas angolanas.
A
situação da existência de línguas, em paralelo, e utilizadas em situações
funcionais diferentes é denominada diglossia que pressupõe uma avaliação consciente
pelos falantes das suas línguas, observando-se uma hierarquia consoante a
necessidade funcional, como ocorre com o Lingala3 , o Kimbundu4 e outras (cf.
Mubiambo, (2014). A língua Kikongo, apesar de o ter sofrido vários contactos,
continua a ser uma língua de identidade cultural. Deste contacto tem resultado
um enriquecimento do seu léxico. As línguas de Angola são produtos de práticas
sociais de grupos que precisam ter a sua existência garantida num mundo
democrático e intercultural (cf. Severo, C. et al , 2014).
ALFABETO DA LÍNGUA KIKONGO
Aquando
da investigação das línguas bantu e das línguas indo-europeias, Nogueira
(1952:20-21) questiona se as línguas bantu e as Línguas indo-europeias não
viriam de um mesmo tronco, ramo ou raiz ? O autor sugere que, para se responder
à pergunta, é necessário que se realize um estudo comparativo das raízes, da
estrutura mórfica dos vocábulos e da comparação dos valores sémicos desses
vocábulos e da estrutura mórfica e sintáctica das frases das línguas das duas
grandes famílias; no caso de existirem paralelismos de correspondências
fonéticas, mórficas, semânticas e sintácticas poderemos dizer que temos o
caminho aberto para uma solução positiva do problema.
Mas
por enquanto ainda não há estudos que confirmem estas hipóteses. Diogo António
na sua obra sobre “Provérbios em Kikongo” (2001) refere que oficialmente ainda
não existe um alfabeto de Língua Kikongo. No entanto, os padres capuchinhos na
sua primeira gramática do Kikongo apontam 18 letras para o alfabeto Kikongo a
saber:
A,
B, E, F, G, I, K, M, N, O, P, S, T, U, V, W, Y, Z. O uso das letras W e o Y
devem-se às influências vindas das obras da RDC
República
Democrática do Congo que serviram de consulta para a constituição da primeira
gramática do Kikongo escrita pelos padres. Para Tavares (1915:8), o alfabeto em
Língua Kikongo deve-se ao sistema gráfico latino, imposto pelos portugueses;
neste sistema, a ortografia foi constituída, baseando-se nos grafemas
portugueses.
Mas
na verdade esta ortografia não existe nas línguas bantu, salvo em casos muito
restritos». Para Mounin (cf. 1997), muitos estudos demonstram que nenhuma
ortografia traduz com exactidão a fonética da língua e que as alterações
ortográficas nunca acompanham as alterações fonéticas das línguas. Este facto
justifica que é necessário conhecer o sistema fonológico da referida língua.
Porém, o facto do alfabeto do português servir como modelo para o estudo das
línguas nacionais, por factores históricos conhecidos, não impede o estudo das
línguas nacionais.
SISTEMA FONOLÓGICO DO
KIKONGO
Independentemente da proveniência histórica do
sistema fonológico da língua Kikongo é necessário também conhecer algumas
características que muitas vezes são só manifestadas na literatura oral.
Segundo Quiala (2013:17), «embora haja a tendência e o esforço para a
utilização escrita do Kikongo, a verdade é que, ao ler o texto ou falar, o
leitor ou o falante não consegue esconder a sua variante pelo seu sotaque».
Castro, I. (2011:7) afirma que “uma língua não
é um objecto estático e fechado, como as descrições linguísticas sincrónicas,
por convivência prática, muitas vezes deixam supor; antes parece um corpo vivo
que se acha em mutação constante, nem sempre avançando de forma linear para um
objectivo determinado: também pode reverter sobre os seus passos ou pode
oscilar entre avanços em várias direcções, naquilo a que se chamaria variação”.
Para
Mingas (cf. 2002:56), os primeiros passos da elaboração do alfabeto de línguas
nacionais foram dados pelos missionários e alguns comerciantes, a partir das
línguas europeias, com base no alfabeto latino, e que «durante a época colonial
os missionários utilizaram as línguas locais nas suas escolas e os primeiros
textos escritos em línguas locais aparecem ao nível da igreja». Quiala, (2013)
na sua obra “Longoka Kikongo” apresenta o alfabeto do Kikongo que resulta do
trabalho de investigação feito pelo Instituto de Línguas Nacionais, com a
grafia e pronúncia do mesmo
PALAVRAS COM
SIGNIFICADO EM KIkONGO
Governo – LUYALU
Constituição – N’KANDA A N’SIKU (mya nsi),
Bandeira – N’DIMBU kya NSI.
Presidente – NTUADISI a NSI, MFUMU a NSI, NTWAZI
Hino Nacional – NKUNGA wa LONGO a NSI
Parlamento – NZO ya KINZONZI
Deputado – MPOVI, N’KWA KINZONZI
Político – MAYALA, N’kwa MBUMBA
Chefe político – MFUMU a MAYALA
Ministro – N’TUMWA a LUYALU
Primeiro-Ministro – N’TUMWA a NTETE wa LUYALU
Ministro de Agricultura – N’TUMWA wa LUYALU Lwa MPATU (KYANA)
Ministro da Juventude – N’TUMWA wa LUYALU Lwa MATOKO
Ministro do Desporto – NTUMWA wa LUYALU Lwa NSAKA:
Ministro das Relações exteriores – N’TUMWA wa LUYALU Lwa MAMBU ma nsi za KINZENZA
Ministro da Energia – N’TUMWA wa LUYALU Lwa NZAZI
Ministro das Minas – N’TUMWA wa LUYALU Lwa MANGUNGU (Mabanga ma Ntalu)
Ministro das Águas – N’TUMWA wa LUYALU Lwa MAZA
Ministro dos Transporte – N’TUMWA wa LUYALU Lwa NDATANI
Ministro da Defesa – N’TUMWA wa LUYALU Lwa MAKESA (mambu ma Kindu)
Ministro do Trabalho – N’TUMWA wa LUYALU Lwa SALU
Ministro da Educação – N’TUMWA wa LUYALU Lwa LULONGOKU
Ministro do Interior – N’TUMWA Wa LUYALU Lwa LUVÚVAMU a NKANGU
Ministro da Justiça – N’TUMWA a LUYALU Lwa NZITISILU
Ministro de Informação – N’TUMWA a LUYALU Lwa NSANGU
Ministro da Comunicação Social – N’TUMWA wa LUYALU Lwa N’SAMU
Ministro da Economia – N’TUMWA wa LUYLU Lwa NGANGU za Swkila NZIMBU
Ministro do Comércio – N’TUMWA wa LUYALU Lwa NKIKITA
Ministro das Finanças – N’TUMWA wa LUYALU Lwa M’FUTILA NZIMBU.
Ministro das Pescas – N´TUMWA wa LUYALU Lwa LOWA (Takula)
Constituição – N’KANDA A N’SIKU (mya nsi),
Bandeira – N’DIMBU kya NSI.
Presidente – NTUADISI a NSI, MFUMU a NSI, NTWAZI
Hino Nacional – NKUNGA wa LONGO a NSI
Parlamento – NZO ya KINZONZI
Deputado – MPOVI, N’KWA KINZONZI
Político – MAYALA, N’kwa MBUMBA
Chefe político – MFUMU a MAYALA
Ministro – N’TUMWA a LUYALU
Primeiro-Ministro – N’TUMWA a NTETE wa LUYALU
Ministro de Agricultura – N’TUMWA wa LUYALU Lwa MPATU (KYANA)
Ministro da Juventude – N’TUMWA wa LUYALU Lwa MATOKO
Ministro do Desporto – NTUMWA wa LUYALU Lwa NSAKA:
Ministro das Relações exteriores – N’TUMWA wa LUYALU Lwa MAMBU ma nsi za KINZENZA
Ministro da Energia – N’TUMWA wa LUYALU Lwa NZAZI
Ministro das Minas – N’TUMWA wa LUYALU Lwa MANGUNGU (Mabanga ma Ntalu)
Ministro das Águas – N’TUMWA wa LUYALU Lwa MAZA
Ministro dos Transporte – N’TUMWA wa LUYALU Lwa NDATANI
Ministro da Defesa – N’TUMWA wa LUYALU Lwa MAKESA (mambu ma Kindu)
Ministro do Trabalho – N’TUMWA wa LUYALU Lwa SALU
Ministro da Educação – N’TUMWA wa LUYALU Lwa LULONGOKU
Ministro do Interior – N’TUMWA Wa LUYALU Lwa LUVÚVAMU a NKANGU
Ministro da Justiça – N’TUMWA a LUYALU Lwa NZITISILU
Ministro de Informação – N’TUMWA a LUYALU Lwa NSANGU
Ministro da Comunicação Social – N’TUMWA wa LUYALU Lwa N’SAMU
Ministro da Economia – N’TUMWA wa LUYLU Lwa NGANGU za Swkila NZIMBU
Ministro do Comércio – N’TUMWA wa LUYALU Lwa NKIKITA
Ministro das Finanças – N’TUMWA wa LUYALU Lwa M’FUTILA NZIMBU.
Ministro das Pescas – N´TUMWA wa LUYALU Lwa LOWA (Takula)
Zola: amar
Nzola: amor
Tuzolana: amemo-nos
Kiese: alegria
Tusamba: oremos
Samba: orar
Tutondele: agrademos (obrigado)
Kuntuala: a frente
Mwêne: ver
Luvayika: sair
Matumona: o que vimos
Lufiauluisu: consolação
Matondo: obrigado
Luvuluzu: salvação
Dizaya: confissão
Nzola: amor
Tuzolana: amemo-nos
Kiese: alegria
Tusamba: oremos
Samba: orar
Tutondele: agrademos (obrigado)
Kuntuala: a frente
Mwêne: ver
Luvayika: sair
Matumona: o que vimos
Lufiauluisu: consolação
Matondo: obrigado
Luvuluzu: salvação
Dizaya: confissão
Cão: mbua
Coelho: lumba
Pedro, Pierre: pedra
Pinto: muana nsusu
Fruta: bundu
Sardinha: nzonzi (peixe)
Coelho: lumba
Pedro, Pierre: pedra
Pinto: muana nsusu
Fruta: bundu
Sardinha: nzonzi (peixe)
CLIKE NA IMAGEM, CRIA SUA CONTA ONLINE, E COMEÇA AJOGAR, CANCELA JÁ A SUA CONTA ANTIGA, SE REGISTA NESTE LINK, QUE IRÁ TE POSSIBLITAR A CONCORRER, LEMBRANDO QUE (5) PRIMEIRAS A POSTAS GANHAS NA SUA CONTA ONLINE, EM (90) DIAS SERÁS SELECIONADO, POR UMA NOTIFICAÇÃO DE SMS NO SEU TELEFONE, TENTA A SUA SORTE, E COMEÇA A JOGAR AGORA, SÓ PARA ANGOLANOS, PREMIERBET A MELHOR CASA DESPORTIVA
BOA SORTE!...
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